Acordei com uma vontade de me expor - percebi que quando faço isso, me ajudo e também apoio outras pessoas. Então, vamos lá!
Em setembro de 2022, tomei uma decisão implacável: me dei alta da terapia.
Simplesmente decidi que não fazia mais sentido continuar com aqueles encontros semanais. Os problemas colocados durante quase cinco anos de sessões foram tratados. Os que ficaram embaixo do tapete, estão lá guardados por mais algum tempo.
Segura da decisão, comuniquei a minha terapeuta e segui em frente, firme, decidida, tão dona de mim que esbocei um riso de canto de boca.
Os meses subsequentes à decisão foram surpreendentemente leves.
Às vezes é melhor não lidar com os problemas. A tal da ignorância confortante.
Entretanto, 2023 veio daquele jeito. Como disse um amigo meu: passou por cima de mim, sem dó, uma moto, um carro, uma caminhonete, um caminhão e um transatlântico.
Ainda em dúvida se a alma estava no meu corpo depois desse atropelamento, decidi enfrentar meses de tratamento de um câncer, sem terapia.
Resolvi focar em três coisas: (1) cuidar da saúde e ser extremamente obediente às recomendações médicas; (2) trabalhar para pagar meus boletos e para provar para mim mesma que seria capaz mesmo no auge da quimioterapia e, por fim, (3) lançar um livro - o primeiro só meu e colocar definitivamente a síndrome da impostora de lado e me autodeclarar uma jornalista e escritora - mulher e negra.
Posso atestar que foi sucesso!
Mas, na época, perdi a conta da quantidade de “sim” que disse para mim mesma. A porta, que quase sempre estava fechada, pouco a pouco foi se abrindo e terminei 2023 com ela entreaberta. Pelo espaço, ainda parcialmente tomado pelo “não” passou muita compaixão, amor, companheirismo, felicidade, dedicação, especialmente vinda dos familiares e amigos - novos e velhos, gente que foi se aproximando e construindo uma rede de energia que me faz levitar, mesmo nos dias mais difíceis.
Após ler Shonda Rhimes e tantos outros autores e suas obras, o ano do SIM, também abriu espaço para o NÃO. Os limites foram sendo colocados em lugares específicos, primeiro para afastar os curiosos, os derrotistas, os invejosos e todo tipo de desamor.
A leitura me fez conectar com cada palavra, frase, sentimento impresso nas páginas incontáveis que devorei mentalmente. Os escritos me colocaram diante de muitos dilemas sobre o “sim” e o “não”. Foi um tempo de muitas reflexões.
Foi uma benção.
Segundo a Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, de Nei Lopes, publicada pelo Selo Negro, o verbete “bênção”, significa “no jogo de capoeira, golpe deferido com a sola do pé em qualquer parte do corpo do adversário, preferencialmente no peito”. É também, segundo os dicionários da língua portuguesa, o ato de benzer, de consagrar ao culto divino
2024 chegou chegando. Além do não, é do sim, veio uma vontade louca de retomar algumas questões, uma urgência de me amar, descansar, escrever mais, me abrir e estabelecer novas conexões e também tirar a tampa da caixa de Pandora da minha cabeça.
NÃO, SIM e AGORA! Palavras de ordem, de um ciclo trienal que me levou, novamente, para uma jornada de terapia.
#saudemental #autobiografia #autobiografica #autossociobiografia
Sugestões de leitura
Opinião
Participação no Giro das Onze da TV 247, apresentado por Camila França, onde comentei os casos Robinho e Daniel Alves e a cultura do estupro. Também falei sobre o plano Juventude Negra Viva, lançado em 21/03 Dia Internacional de luta contra a discriminação racial. #jornalismo #violência #estupro #danielalves #robinho #juventudenegra